sábado, 16 de outubro de 2010

Na busca..



A semana foi ótima, 
fiz contatos, retomei contatos,
descartei permanentemente idéias falidas,
e fiz muitos novos planos..
Dúvidas? Perguntas? Anseios? Receios?
Vários ainda.
Mas continuo buscando..

Sim...acho que cresci. 
CuriosaMente aprendiz,
aprendi muito mais, que ensinei..
Falei, questionei, desabafei..
Pus todos pingos nos "is"
sem máscaras, sem culpas,
medos ou bloqueios.
Prazerozamente muito ouvi,
confesso..que calei com gosto,
por medo do conhecimento fugir,
se um movimento qualquer, fizesse.

Finalmente algumas nebulosas,
foram se decifrando.
Já não estou perdida.
O oprimente peso foi-se.
Respiro aliviada...
O claustro já não segue vazio.
O mundo está finalmente me encontrando.

VDA.

Eu..uma menina, mais mulher à cada dia.

Freud já dizia.... (Frases)




"A sede de conhecimento parece ser inseparável da curiosidade sexual" Sigmund Freud

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

AMARRAS...meus FETICHES

"Entre algemas e pedaços de tecido..
desfalecem meus braços...
adormecem minhas pernas..
aguçam meus ouvidos..
meus olhos vendados escondem o desejo escancarado..
minha boca amarga os pedidos negados.

tuas mãos percorrem lentas, desbravadoras, sedentas..
meu corpo torpe.. minhas carnes nuas..
tão brancas... tão rosas... tão tuas..
me marcas...
linhas rosadas destoam em mim..   










 És meu dono....
 

Assim entregue,
amarrada... domada...
subjugada pelo desejo..
Sou indescutivelmente tua..
tal qual a música.. que vem em minha mente..
Teu cheiro me põe em zelo..
Teu respirar rouco.. teus gemidos loucos..
me arrepiam... me embriagam... me satisfazem..
gemo.. sorrio... grito... choro.... gargalho... imploro..
medo.. prazer... dor... carinho... tara.. paixão... doença... tesão.      Devaneio perdido... fantasias secretas... sonho realizado..
Minha mente divaga... perdida em torpes imagens desconexas..
Tua voz rouca... em meus ouvidos... dizendo coisas tão sacanas... teu timbre a gravar em mim... teu grave suave.. profundo.. ordena.


Enquanto me tomas.. minha impotência é mesclada com teu peso..
o prazer me banha com teu roçar... lento.. torturador... calculado..
tua risada ecoa... até minha cama gelada que implora... o fim..
a mesa range.. com nosso peso.. a luz me banha sem vergonha...
meu corpo exausto treme... lateja... pede.. chora... conclama..
meu gozo irrompe... molhado... intenso... te envolvo por completo.. e por ti latejo... te aperto.. te molho..


te sinto todo meu.. entregue..
crescendo dentro d mim.... me preenches toda..
te sinto em meu suave interno escrutínio..
teu gozo me banha.... funde-se ao meu..
teu leite escorre demarcando em mim..
todo o teu domínio."
by Virginie - Escritora do site Recanto da Letras. Virginie   

Desabafo devaneante sobre Loucuras telefônicas na madrugada...







Sabe quando você está de saco cheio
da mesmice que te cerca,
quando está sufocado e às vezes nem sabe o porquê..
Ou quando a carência toma conta e a coisa que mais desejas é um afago sincero,
alguém que te ponha no colo, te faça um carinho, te encha de beijos
ou mesmo te abrace de conchinha e durma assim, encoxadinho contigo à noite inteira. 
Talvez até uma noite de sexo quente sem pudores, inibições ou culpas..
Apenas prazer...no seu mais puro sentido. Prazer em dar. Prazer em saborear..
Prazer em ter.. Prazer em receber.. Prazer em tocar.. Prazer em ser tocado..
lambido.. beijado.. acariciado.. cheirado.. mordido.. arranhado... gritado.. gemido.. sussurado.. gozado.

Bom eu queria isso tudo e muito mais... há dias me sentia inquieta,
provavelmente por ter assumido esse blog e tomado algumas decisões pra minha vida.
Cansei de viver uma vida que não é minha.
Cansei de fingir algo que não sou por aparências ou puritanismo.
Dogmas impostos por gente que vive de recalcar os outros.
Cansei de viver aprisionada em mim. Cansei de ser submissa do medo, da culpa, do arrependimento.
De viver sempre num será.. num talvez.. num podia ter sido. Cansei.. cansei de mim mesma.
Num dia desses... nesse turbilhão de sentimentos... me permiti.
Me permiti ser eu.. me permiti sentir.. fechei meus olhos e disse: Dane-se!!  Provavelmente me encharquei em Anais Nin, num de meus deleites literários.
Talvez o relato abaixo seja visto como redundante visto que acabei de dizer que cansei de fingir.
Mas o meu cansar é o cansar do mundo real. Da hipocrisia urbana diária.
Jamais, cansei das minhas fantasias.

Ri..chorei..tive medo..fugi...voltei e tentei.
Peguei o caminho mais fácil hoje em dia.. entrei em um desses milhares de chats,
adentrei de sala em sala, experimentei.. Até pq toda mudança verdadeira deve ser começada aos poucos.
olhei imagens eróticas, ouvi asneiras, ouvi meias verdades, ouvi verdades inteiras, ouvi gente frustrada, agressiva, burra, inteligente, mal amada, totalmente amada, tarada. Andei... andei e andei..
Comecei a relembrar quando tive algumas fantasias com o tema, lá no fim da adolescência,
Ter e dar prazer através de um telefone. Loucura? Carência? Fuga?
Pensei pq não?.. Afinal, era tão bom..
Meu primeiro orgasmo aconteceu assim, aos 20 anos, ao telefone.
E se prolongou por 2 anos enquanto me relacionava diariamente, anonimamente com meu primeiro Dom. 
Dom Fábio.. onde estiver.. aqui vai o reconhecimento por meu 1 gozo.
O primeiro de muitos.. Obrigada!

 


O anonimato nos protege e conduz como um fio tênue de uma teia de aranha..
Ao mesmo tempo que nos protege, nos isola.
Nosso Id se solta.. os egos se inflam.. e a verdade aflora.
Nossos desejos, fantasias, taras, vontades mais secretos vem à tona.
Se você tem dúvidas do que gosta, do que deseja..
Comece assim, brinque anonimamente..
seja por web ou telefone.
Se prepare.. deguste... aprenda.
Estimule a imaginação..
perca se nas fantasias.
"Só quando deixamos de ser nós mesmos,
que descobrimos quem verdadeiramente somos."
Achei-o quando estava quase desistindo.. já frustrada e broxada.
Veio como quem não quer nada, além de uns minutos pra curar a solidão.
Foi gentil, honesto e carinhoso nos modos.. no despir se da vida fria.
Senti sua frustração, sua carência e solidão transbordando através das curtas frases digitadas.
Me envolveu por completo... ficamos sós entre mais de 30 "chateantes".
Solteiro.. namorando.. 38 anos e incompleto, frustrado, cheio de amarras,
mas completamente louco pra se soltar. Após um papo entusiasmado,
propus um trato, impensado, do nada..
Ele topou depois de um leve hesitar.
Confiança e honestidade 100% pra nós.
Mantermos contato e abrirmos nosso corações,
nossas fantasias e vontades. Sermos livres.
Mútuamente livres. Numa via de mão dupla
real ou virtual.. Contatando nos até ambos
estarmos curados.


Não pensei no antes ou no depois.. pensei apenas em nós e no durante. Quis ser apenas, a doce cura praquele homem menino. Não quis pensar na namorada ou se ele ia continuar a me ligar. Não quis idealizar ou esperar nada mais do que me foi dado. Sem promessas, sem pudores mágoas ou rancores.
Talvez fosse o lado subserviente que trago enraizado.
Talvez fosse o lado Domme de ter o controle do prazer alheio, afinal aquele sorriso,
aquela vontade d+, aquele excitante momento foi conduzido por mim.
Por nós.. claro,  mas iniciado por mim.
Nessas horas me pego analisando se tendo mais a dominar ou a servir.
Pois, sinto tanto prazer em ambos. Switcher? Talvez...
Num impulso dei meu telefone... esperei alguns minutos..e ele calado..
provavelmente se remoendo entre dever e poder.. Ouvi o toque no celular, gelei... com dedos trêmulos Atendi.. Silêncio. Disse um oi nervoso, ele respondeu um oi aliviado.
Sua primeira frase: Acho que eu é que estou ficando louco!  Rimos.. rimos muito..
Como duas crianças a descobrir o pote de doces secreto.
Entre frases e risadas, rolei deitada, meu quadril na cama... de um lado pro outro...
elevei as pernas, apoiando as na parede e deixei a camisola escorregar levemente em minhas coxas.
Enquanto ria dele me chamando de dengosa.. dengosinha... elogiando a voz "sexy" de menina.  
Ah.. que voz. D E L I C I O S A.. quente.. rouca...
Não, minto.. rouca foi ficando ao longo da conversa.
Antes era morna, densa.. voz de homem, não de menino. Já estava excitada teclando.
Ao ouvir ele quase sussurando rouco em meu ouvido, usando o famoso "haham" pra disfarçar..
Molhei minhas coxas. Contei à ele da tortura que era sua voz, e da camisola elevada.
Ele falou em como adoraria estar ali comigo, desnudando minha calcinha.. Opa.. calcinha?
Olhei pra minhas coxas levemente abertas apoiadas na parede, e onde minha camisola descansava
ali.. toda molhada... inchada... rosada.. minha vagina nua molhada me acenava. 
Não uso calcinhas, falei. Só quando é necessário...
ele gemeu e riu um riso nervoso, agitado.
Entramos num sedutor crescer, entre fantasias sussurradas, gemidos, mãos molhadas,
respirações aceleradas, tesão aflorado, eu suei.. gemi.. me contorci, quase implorei,
arfante pra te lo em mim realmente. Gozei arqueando meu corpo até molhar a cama.
Ele gozou um gozo longo... rico... aliviado.
Rimos um riso saciado.. ele constrangido, sem saber muito o que dizer..
Facilitei falando que agora, ele iria se atrasar ao trabalho.
Ele pediu me desculpas sinceras, envergonhado.
Despedimo nos com uma vontade de mais.
Gozei mais 3 vezes só relembrando sua voz e seus gemidos roucos
enquanto encharcava meus dedos em meu gozo e
alternava entre me penetrar, lamber meus dedos, apertar meus seios
e enlouquecer meu clitóris.
Sinceramente.. espero que tenha mais.
Numa hora até tocou-se no assunto real.. ambos ficamos no não sei, ele mais inclinado a sim.
Eu sinceramente não sei. Pedi pra deixar rolar, afinal, se tiver de ser.. será.
Não é a máxima que rola por aí? Mas se "tu" estiveres lendo..
Ao terminar, já sabes pra onde ligar..rsrsrs

Para alguns esse relato é chulo, pobre, totalmente baunilha.
O cara teve a "punhetinha ganha" da manhã.
Coisa ridícula, masturbação conduzida... etc.. etc.
Bom.. na pior das hipóteses do humor negro, pense..
estávamos fazendo o mais legítimo sexo seguro.
Hahaha... a esses eu brindo sua total falta de imaginação.

Mas para quem adora jogos psicológicos, vai entender o prazer que nos absorveu.
Saber que levei um estranho solitário à alturas esquecidas,
ouvi-lo perdendo pouco a pouco o controle
 e saber que fui eu que o conduzi ao seu limite é quase tão bom e intenso quanto realizarmos ao vivo.
Não.. não substitui o ao vivo. E nem, uma puta gozada no telefone, da garantias que o real seja tão bom.
Mas a mim agradou... e agrada.
Descobri-me assumida, uma fetichista em telefone.

Nessas horas meu lado sub vai embora e a Domme assume.
Ou ambas mesclam-se... misturam-se. O que acho mais provável.
Amo dar prazer.. quase tanto ou mais que receber.
Amo a "falsa" sensação de poder, de estar no controle..
De apenas com um gemido, um ofego,  uma palavra sussurrada,
te levar mais longe. Te fazer gozar.
Amei cada gemido.. cada respiração mal contida, cada falar agitado e constrangido.
Bebi de cada gota de teu gozo.
Bebi..
bebi de tuas palavras..
bebi de tua entrega..
bebi de teus balançares na cama.. (sim, eu os escutei..rsrs)
bebi de teus ofegos..
bebi de teus suspiros..
 bebi de cada elevar e descer de tua mão em teu membro..
bebi de cada vai e vem de teu quadril no colchão.. 
bebi de cada respirar ofegante..
bebi de cada palavra entre dentes..
bebi de cada tara pensada..e falada..
bebi de cada sensação..
pq me ausentei de mim, 
pra me embebedar de ti.  

Íris... uma recém descoberta fetichista em telefone.
Uma menina envolta em muitas mulheres
descobrindo à cada dia, quem e o que realmente quer. 

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Me nego a seguir a maré...

O que melhor me define hoje, em meu atual momento..é um texto de Anais Nin:


  

"Me nego a viver em um mundo ordinário como uma mulher ordinária. A estabelecer relações ordinárias. Necessito o êxtase. Não me adaptarei ao mundo. Me adapto a mim mesma." Anais Nin


Adoro essa francesinha...atemporal em suas vivências como poderam ler no próximo post. Farei um especial com as famosas cartas de 1941.


 

As Cartas atemporais de Anais Nin...

(Escrito por - Luis Favre)

Carta de Anaïs Nin

“Prezado coleccionador:
Detestamo-lo. O sexo perde todo o seu poder, toda a sua magia, quando se torna explícito, abusivo, quando se torna mecanicamente obcecante. Passa a ser enfadonho.
Nunca conheci pessoa que melhor provasse o erro que é não se lhe juntar a emoção, a fome,
o desejo, a luxúria, os caprichos, as manias, os laços pessoais, relações mais profundas,
que lhe mudam a cor, o perfume, os ritmos, a intensidade.
Nem o senhor sabe o quanto perde com esse seu exame microscópico da actividade sexual e a exclusão dos outros aspectos, que são o combustível que a faz atear. Intelectual, imaginativo, romântico, emocional. Eis o que dá ao sexo as suas surpreendentes texturas, as mudanças subtis,
os elementos afrodisíacos. O senhor restringe o seu mundo de sensações.
Disseca-o, definha-o, tira-lhe o sangue.
Se o senhor alimentasse a sua vida sexual com todas as aventuras e excitações que o amor instila a sensualidade, seria o homem mais poderoso do mundo. A fonte da potência sexual é a curiosidade,
é a paixão. O que o senhor vê é sua débil chama a morrer de asfixia.
O sexo não pode medrar na monotonia. Sem invenções, humores, sentimentos, não há surpresa na cama. O sexo deve ter à mistura lágrimas, riso, palavras, promessas, cenas, ciúme, inveja, todos os condimentos do medo, viagens ao estrangeiro, novas caras, romances, historias, sonhos, fantasias, musica, dança, ópio, vinho. O que o senhor perde com esse periscópio na ponta do sexo, quando podia gozar de um harém de maravilhas várias e jamais repetidas!
Não há dois cabelos iguais; mas o senhor não quer que desperdicemos palavras a descrever uns cabelos. Não há dois cheiros iguais; porém, se nós nos detemos com isso, o senhor exclama: “Suprimam a poesia.”
Não há duas peles de igual textura; nunca é a mesma luz, a mesma temperatura, as mesmas sombras, nunca são os mesmos gestos; porque um amante, quando animado do verdadeiro amor, é capaz de vencer séculos e séculos de ciência amorosa. Quantas mudanças de tempo, quantas variações de maturidade e de inocência, de arte e de perversidade…
Discutimos até à exaustão para saber como seria o senhor. Se fechou os sentidos à seda, à luz, à cor, ao cheiro, ao carácter, ao temperamento, deve estar nesta altura totalmente empedernido.
Há tantos sentidos menores que se lançam como afluentes no rio do sexo!
Só o bater em uníssono do sexo e do coração pode provocar o êxtase.»
Anaïs Nin, 1941

Anaïs Nin nasceu em 1903 em Neully-sur-Seine, filha do pianista espanhol nascido em Cuba, Joaquín Nin y Castellanos e da cantora dinamarquesa Rosa Culmell. Desde os onze anos que escreveu continuamente o seu diário até 1977.
Em 1932 conhece Henry Miller, em Paris. Desse encontro nascerá uma célebre relação amorosa (parcialmente descrita em Henry e June) e intelectual. Anaïs Nin redige o prefácio para o livro de Miller Trópico de Câncer e ambos escrevem Contos Eróticos. Alguns aspectos da intensa vida da escritora acabam por ser revelados em 1992, através da edição do volumoso Diário Inexpurgado referente a 1932-1934 e editado sob o título Incesto. De facto, os textos anteriormente publicados, os do Diário de 1966, haviam sido expurgados de nomes de personagens vivos e de certas intimidades, privilegiando a estética literária.
Além dos referidos volumes diarísticos, a escritora publicou Debaixo de Uma Redoma (1944), Os Espelhos o Jardim (1946), Uma Espia na Casa do Amor (1954) e Sedução do Minotauro (1961).
Anaïs Nin morreu em Los Angeles, no ano de 1977.

DELTA DE VENUS: HISTORIAS EROTICASEm Delta de Venus, Histórias eróticas, Anaïs Nin adentra na vida de prostitutas que satisfazem os mais estranhos desejos de seus clientes. Mulheres que se aventuram com desconhecidos para descobrir sua própria sexualidade. Triângulos amorosos e orgias. Modelos e artistas que se envolvem num misto de culto ao sexo e à beleza. Aristocratas excêntricos e homens que enlouquecem as mulheres. Estes são alguns dos personagens que habitam os contos – eróticos – de Delta de Vênus, de Anaïs Nin. Escritas no início da década de 40 sob a encomenda de um cliente misterioso, estas histórias se passam num mundo europeu-aristocrático decadente, no qual as crenças de alguns personagens são corrompidas por novas experiências sexuais e emocionais. Discípula das descobertas freudianas, Anaïs Nin aplicou nestes textos a delicadeza de estilo que lhe era característica e a pungência sexual que experimentou na sua própria vida. Mais do que contos eróticos, Delta de Vênus oferece ao leitor histórias de libertação e superação. (Fonte Travessa.com).

Anaïs Nin – Prefácio de Delta de Vénus
(tradução do original: Paulo J. Lourenço) Abril, 1940

"Um coleccionador de livros ofereceu cem dólares por mês a Henry Miller para que ele escrevesse histórias eróticas. Pareceu-me um castigo dantesco condenar Henry a escrever erótica a um dólar por página. Ele revoltou-se porque o seu sentimento era o oposto de um Rabelais. Escrever por encomenda era uma ocupação castrante e escrever com um voyeur a espreitar pelo buraco da fechadura tirava toda a espontaneidade e prazer das suas aventuras.
Dezembro, 1940
Henry contou-me acerca do coleccionador. Por vezes almoçavam juntos. O coleccionador comprou um manuscrito a Henry e sugeriu-lhe que escrevesse para um dos seus antigos e abastados clientes. Ele não podia dizer muito acerca do seu cliente excepto que estava interessado em erótica.
Henry começou a escrever alegremente, na brincadeira. Inventou histórias malucas que o faziam rir. Encarou a tarefa como uma experiência e, de início, parecia fácil mas ao fim de algum tempo a experiência abateu-se sobre ele. Não desejava tocar em nenhum do material que tinha reservado para o seu trabalho sério e assim ficou condenado a forçar as suas invenções e a sua disposição.
Nunca recebeu uma palavra de reconhecimento do seu estranho patrono. Podia ser natural que não desejasse revelar a sua identidade mas Henry começou a provocar o coleccionador. Este patrono existia de facto? Estas páginas eram para o próprio coleccionador para temperar a sua própria vida melancólica? Seriam o coleccionador e o patrono uma e a mesma pessoa? Henry e eu discutimos isto longamente, simultaneamente confusos e divertidos.
por esta altura, o coleccionador anúncio que o seu cliente viria a Nova Iorque e que Henry se encontraria com ele. Mas, de alguma forma, este encontro acabou por nunca se concretizar. O coleccionador era generoso em descrições sobre como enviava os manuscritos por correio aéreo, quanto custavam os envios, pequenos detalhes com a intenção de acrescentar realismo às pretensões que ele fazia acerca da existência do seu cliente.
Um dia ele quis uma cópia de «Black Spring» com uma dedicatória. Henry disse-lhe:
- “Mas eu pensava que me tinha dito que ele já possuía edições assinadas de todos os meus livros”.
- “Ele perdeu a cópia de «Black Spring».”
- “A quem devo dedicá-la?” – perguntou Henry inocentemente.
- “Escreva apenas «a um bom amigo» e assine o seu nome”.
Algumas semanas depois Henry precisou de uma cópia de «Black Spring» e não encontrou nenhuma. Decidiu pedir emprestada a cópia do coleccionador e dirigiu-se ao seu escritório. O secretário pediu-lhe para esperar. Começou a passar os olhos pelos livros que estavam nas prateleiras. Viu uma cópia de «Black Spring». Retirou-a. Era aquela que ele havia dedicado “a um bom amigo”.
Quando o coleccionador apareceu, Henry mencionou este facto, rindo-se. Igualmente de bom humor o coleccionador explicou:
- “Oh, sim! O velhote ficou tão impaciente que lhe mandei a minha cópia enquanto esperava que assinasse esta. Tenho a intenção de trocar as cópias quando ele voltar a Nova Iorque”.
Henry disse-me quando nos encontrámos:
- “Estou mais estupefacto que nunca”.
Quando Henry perguntou qual estava a ser a reacção do seu patrono à sua escrita a resposta foi:
- “Oh, ele gosta de tudo. É tudo maravilhoso mas ele prefere a narrativa, apenas o contar da história. Nada de análises, nada de filosofia”.
Quando Henry precisou de dinheiro para as suas despesas de viagem sugeriu-me que eu escrevesse. Senti que não queria dar nada de genuíno e decidi criar uma mistura de histórias que tinha ouvido e invenções, fazendo de conta que eram do diário de uma mulher. Nunca cheguei a conhecer o coleccionador. Ele deveria ler as minhas páginas e dizer-me o que pensava. Hoje recebi um telefonema. Uma voz disse:
- “Está bom mas deixe de lado as descrições e as poesias de tudo o que não seja sexo. Concentre-se no sexo”.
Assim, comecei a escrever de forma falaciosa, tornei-me mais grotesca, inventiva e tão exagerada que pensei que ele percebesse que estava a caricaturizar a sexualidade. Mas não houve nenhum protesto. Passei dias na biblioteca a estudar o “Kama Sutra” e ouvi as aventuras mais extremas de amigos.
- “Menos poesia” – disse a voz pelo telefone. “Seja específica”.
Mas alguma vez alguém tirou prazer de ler uma descrição clínica? O velhote não saberia como as palavras carregam consigo as cores e os sons para a carne?
Todas as manhãs, depois do pequeno-almoço me sentava e escrevia a minha porção de erótica. Uma manhã escrevi “Havia um aventureiro húngaro…” e dei-lhe muitas vantagens: beleza, elegância, graça, charme, os talentos de um actor, conhecimentos de muitas línguas, um dom para a intriga e para sair de dificuldades e um dom para evitar a permanência e a responsabilidade.
Outra chamada telefónica:
- “O velhote está satisfeito. Concentre-se no sexo. deixe de lado a poesia”.
Isto foi o início de uma epidemia de “diários” eróticos. Toda a gente escrevia as suas experiências sexuais. Inventadas, ouvidas, investigadas no Krafft-Ebing e livros clínicos. Tínhamos conversas cómicas. Contávamos uma história e os restantes de nós tinham que decidir se era verdadeira ou não. Ou plausível. Seria isto plausível? Robert Duncan ofereceria-se para experimentar, para testar as nossas invenções, confirmar ou negar as nossas fantasias. Todos nós precisávamos de dinheiro e assim juntámos as nossas histórias.
Eu tinha a certeza de que o velhote não sabia nada sobre as beatitudes, os êxtases, as fantásticas reverberações dos encontros sexuais. Deixe de lado a poesia era sua mensagem. Sexo clínico, despido de todo o calor do amor – a orquestração de todos os sentidos, toque, audição, olhar, palato; todos os acompanhamentos eufóricos, a música de fundo, os estados de alma, atmosfera, variações – forçavam-no a recorrer a afrodisíacos literários.
Poderíamos ter forjado melhores segredos para lhe contar, mas ele seria surdo a tais segredos. Porém, um dia, quando ele se saturasse dir-lhe-ia como ele quase nos fez perder o interesse na paixão, devido à sua obsessão com gestos esvaziados das suas emoções e como o tínhamos vituperado porque ele quase nos tinha feito tomar votos de castidade porque aquilo que ele tinha desejado que exluíssemos era o nosso próprio afrodisíaco-poesia.
Recebi cem dólares pela minha erótica. Gonzalo precisava de dinheiro para o dentista, Helba de um espelho para a sua dança e Henry dinheiro para a sua viagem. Gonzalo contou-me a história do Basco e Bijou e eu escrevia-a para o coleccionador.
Fevereiro, 1941
A conta telefónica estava por pagar. A teia das dificuldades económicas estava a fechar-se sobre mim. Toda a gente à minha volta irresponsável, insconsciente do afundar do barco. Escrevi trinta páginas de erótica.
Novamente acordei para a consciência de estar sem um cêntimo e telefonei ao coleccionador. O seu cliente rico tinha-lhe dito alguma coisa acerca do último manuscrito que lhe tinha enviado? Não, ele não tinha, mas ele ficaria com o último que havia escrito e pagar-me-ia por ele. Henry precisava de ir ao médico. Gonzalo precisava de óculos. Robert apareceu com B. e pediu-me dinheiro para ir ao cinema. Os restos da janela cairam sobre o papel e o meu trabalho. Robert apareceu e levou a minha caixa de papel de escrita. O velhote não estaria já cansado de pornografia? Não se daria um milagre? Comecei a imaginá-lo a dizer “Dêem-me tudo o que ela escreve, quero tudo, gosto de tudo. Vou mandar-lhe um grande presente, um grande cheque por todo o trabalho que ela teve”.
A minha máquina de escrever estava estragada. Com cem dólares no meu bolso recuperei o meu optismo. Disse a Henry:
- “O coleccionador diz que gosta de mulheres simples e não intelectuais, mas convidou-me para jantar”.
Tinha um pressentimento que a caixa de Pandora continha os mistérios da sensualidade feminina, tão diferente da do homem e para a qual a linguagem do homem era inadequada. A linguagem do sexo ainda teria que ser inventada. A linguagem dos sentidos ainda tinha que ser explorada. D. H. Lawrence começou a dar uma linguagem ao instinto, ele tentou escapar ao clínico, ao científico, que apenas capturam o que o corpo sente.
Outubro, 1941
Quando Henry regressou fez uma série de afirmações contraditórias. Que ele conseguia viver de nada, que se sentia tão bem que até podia arranjar um emprego, que a sua integridade o impedia de escrever cenários em Hollywood, até que, por fim, eu disse:
- “E que tal sobre a integridade de escrever erótica a troco de dinheiro?”
Henry riu, admitiu o paradoxo, as contradições. Riu e deixou o assunto.
A França teve uma tradição de escrita erótica num estilo fino e elegante. Quando comecei a escrever para o coleccionador pensei que haveria uma tradição semelhante aqui mas não encontrei mesmo nenhuma. Tudo o que vi era inferior, escrito por escritores de segunda. Nenhum bom escritor havia sequer tentado erótica.
Disse a George Barker como Caresse Crosby, Robert, Virginia Admiral e outros estavam a escrever. Apelou ao seu sentido de humor a ideia de eu ser a “madame” desta snob casa de prostituição literária, da qual a vulgaridade era excluída. Rindo, disse-lhe:
- “Eu forneço o papel e o quimico, entrego o manuscrito anonimamente, protejo o anonimato de toda a gente”.
George Barker achou que isto era muito mais humorado e inspirador que mendigar, pedir emprestado ou pedinchar refeições aos amigos. Juntei poetas à minha volta e todos nós escrevemos erótica linda. Como estávamos condenados a concentrarmo-nos apenas na sensualidade tínhamos violentas explosições de poesia. Escrever erótica passou a ser um caminho para a santidade em vez de ser um caminho para o deboche. Harvey Breit, Robert Duncan, George Barker, Caresse Crosby, todos concentrámos de tal forma os nossos esforços num tour de force (em francês no original), fornecendo ao velhote uma abundância de momentos de felicidade perversos, que agora ela suplicava por mais.
Os homossexuais escreviam como se fossem mulheres. Os tímidos escreviam acerca de orgias. As frígidas sobre satisfações alucinadas. Os mais poéticos condescendiam em bestialidade pura e os mais puros em perversões. Estávamos assombrados pelos maravilhosos contos que não conseguíamos contar. Sentávamo-nos, imaginávamos como sria o velhote, falávamos de como o odiávamos por ele não nos permitir uma fusão entre sexualidade e sentimento, sensualidade e emoção.
Dezembro, 1941
George Barker era muito pobre. Ele queria escrever mais erótica. Escreveu oitenta e cinco páginas. O coleccionador achou-as demasiado surreais. Eu adorei-as. As suas cenas de amor eram loucas e fantásticas. Amor entre trapézios.
Gastou o seu primeiro dinheiro em bebida e eu não lhe podia emprestar mais nada para além de mais papel e mais papel-quimico. George Barker, o excelente poeta inglês, escrevendo erótica para beber, tal como Utrillo pintou quadros em troca de garrafas de vinho. Comecei a pensar no velho que todos detestávamos. Decidi escrever-lhe, dirigir-me a ele directamente, contar-lhe sobre o que sentíamos.
“Caro coleccionador, odiamo-lo. O sexo perde todo o seu poder e magia quando se torna explícito, mecânico, repetitivo, quando se torna numa obsessão mecânica. Torna-se uma seca. Ensinou-nos mais do que qualquer outra pessoa que conheça, como é errado não o misturar com emoção, fome, desejo, luxúria, tiques, caprichos, personalidades, relações mais fundas que mudam a sua cor, sabor, ritmos e intensidades.
Você não sabe o que perde por causa do seu exame microscópico da actividade sexual excluída dos aspectos que são o combustível que produzem a ignição. Intelectual, imaginativo, romântico, emocional. É isto que dá ao sexo as suas texturas surpreendentes, as suas transformações subtis, os seus elementos afrodisíacos. Você está a limitar o seu mundo de sensações. Está a destruí-lo, a matá-lo à fome, a drenar o seu sangue.
Se você alimentar a sua vida sexual com todas as excitações e aventuras que o amor injecta na sensualidade, você seria o homem mais potente do mundo. A fonte da potência sexual é a curiosidade, a paixão. Você está a ver a sua pequena chama morrer de asfixia. O sexo não se alimenta de monotonia. Sem sentimento, invenções, estados de alma, sem surpresas na cama. O sexo deve andar misturado com lágrimas, gargalhadas, palavras, promessas, cenas, ciúme, inveja, , todas as especiarias do medo, de uma viagem ao estrangeiro, novas faces, romances, histórias, sonhos, fantasias, música, dança, ópio, vinho.
Quanto você perde por causa desse periscópio na ponta do seu sexo, quando podia ter um harém de maravilhas diferentes, nunca repetidas! Não existem dois fios de cabelo iguais, mas você não nos deixa gastar palavras para descrever o cabelo. Não há dois odores iguais, mas se nos expandimos nisso você grita-nos “Cortem a poesia!” Não há duas peles com a mesma textura e nunca a mesma luz, temperatura, sombras, nunca o mesmo gesto. Um amante, quando é excitado por amor verdadeiro, pode percorrer toda a gama de séculos de conhecimento sobre o amor. Que extensão, que mudanças de idade, que variações de maturidade e inocência, perversidade e arte…
Sentámo-nos durante horas perguntando-nos como seria o seu aspecto. Se você fechou os seus sentidos à seda, luz, cores, odores, carácter, temperamento, por esta altura já deve ter mirrado por completo. Há tantos sentidos menores, todos correndo, como tributários do curso principal do sexo, alimentando-o. Apenas o batimento em uníssono do sexo e do coração pode criar extâse”.
POST-SCRIPTUM
Na altura em que escrevíamos erótica a um dólar por página apercebi-me que, durante séculos, só havíamos tido um modelo para este género literário: a escrita dos homens. Já estava consciente de uma diferença entre o tratamento masculino e feminino da experiência sexual. Sabia que havia uma grande disparidade entre a explicitude de Henry Miller e as minhas ambiguidades entre os seus humores e a visão Rabelaisiana do sexo e as minhas descrições poéticas do sexo nas porções não publicadas do diário. Como escrevi no “Volume III” do “Diário”, tinham um pressentimento que a caixa de Pandora continha os mistérios da sensualidade feminina, tão diferente do homem e para a qual a linguagem do homem era inadequada.
As mulheres, pensava eu, estavam mais aptas a fundir sexo com emoção, com o amor, e a preferirem um homem em vez de serem promíscuas. Isto tornou-se aparente para mim á medida que escrevia os contos e o “Diário”, e vi-o mais claramente ainda depois de começar a leccionar. Mas, apesar de a atitude das mulheres em relação ao sexo fosse bastante distinta da dos homens, ainda não tínhamos aprendido a escrever sobre ela.
No género erótico escrevia para entreter, sob pressão de um cliente que desejava que eu “deixasse de lado a poesia”. Eu acreditei que o meu estilo derivava da leitura de obras escritas por homens. Por esta razão durante muito tempo senti que havia comprometido o meu eu feminino. Pus o género erótico de lado. Relendo-o após todos estes anos vejo que a minha própria voz não fôra totalmente suprimida. Em numerosas passagens estava intuitivamente a usar uma linguagem feminina, a ver a experiência sexual a partir de um ponto de vista feminino. Finalmente decidi enviar a minha escrita erótica para publicação porque mostra os primeiros esforços de uma mulher num mundo que havia sido o domínio dos homens.
Se a versão integral do “Diário” fôr algum dia publicada, este ponto de vista feminino será estabelecido de forma mais clara. Mostrará que as mulheres (e eu, no “Diário”) nunca separaram sexo do sentimento, do amor do Homem completo."
Anais Nin
Los Angeles
Setembro, 1976″

Fonte Adlocutio e blog do Favre ( http://blogdofavre.ig.com.br/2009/01/carta-de-anais-nin/ )

O começo..



Amo Quintana...assim como amei Saramago,
Tive inúmeras paixões: Borges, Nietzsche, Drumond, Machado, Keats, e por aí vai.
Sempre fui precoce, me alfabetizei aos 5 e desde os 7 sou fascinada por bibliotecas e livros.
Acho que aí começou minha sede de conhecimento,
eu queria entender tudo e a fase dos porquês começou..
E até hoje felizmente, não parou.
Sou uma curiosa...uma pesquisadora nata, dos temas que me interessam.

Fiz esse mea culpa..para explicar a existência do blog,
quero nele expressar todas minhas buscas,
meus desabafos, devaneios e memórias.

Sintam-se à vontade de adentrar meu mundo,
mas lembrem-se...tenham parcimônia antes de criticar, falar mal, etc..
pois esse, é o MEU mundo. 

Eu sou Íris, muito prazer...



****Ps:(Comentários e críticas são sempre bem vindos,
desde que sejam escritos sem palavras de baixo calão ou de agressão.
As fotos que não contiverem os devidos créditos foram retiradas da web
e por isso, estavam como anônimas. Mas indiquem o dono e "darei nome aos bois")